Sabores da Memória
- Elaine Missiano
- 25 de set.
- 3 min de leitura
(trecho do 2o e~book " " da ong GAAAbraço de Família - Dra Elaine Missiano)
Para falarmos nos sabores da memória, gostaria de lembrar das cinco linguagens do afeto (verbal, auditiva, toque, atitude e tempo de qualidade); dos tipos de papilas gustativas, que nos permitem sentir os cinco paladares básicos (doce, salgado, azedo, amargo e umami (prolongador de sabor); dos tipos básicos de memória (sensorial, curto prazo, trabalho e longo prazo); e dos tipos básicos de atenção (fluida e concentrada).
A atenção tem como uma das suas funções, a percepção e a codificação. A memória tem como função sua função o armazenamento e a evocação. A memória sensorial é responsável por reter as informações que chegam pelos 5 sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar).
A memória é essencial para o ensino e o aprendizado. Também permite às pessoas relembrar, recorrer e evocar eventos passados para compreender (ressignificar) o presente e o futuro
Ainda temos as memórias simples e as complexas. Com essas últimas percebemos por mais de um sentido
Não somos eficientes em todos, seja na linguagem do afeto, atenção, memórias ou paladares. As pessoas tem esta ou aquela habilidade, ou linguagem mais desenvolvida ou menos
Desta forma, nem sempre “falamos” ou percebemos a vida pelo mesmo canal
Quando falamos em afetos, falamos de afetos percebidos, pelo menos inicialmente como negativos ou positivos (nem sempre o são). Falamos em paladares que se transformam através do afeto com que são oferecidos ou recebidos (e não apenas pela maturação neurológica), ou em afetos que se transformam motivados por paladares, ressignificando, confirmando ou formando memórias, ou ainda de vivências cercadas por afetos e paladares, que desagradável ou agradavelmente são registradas por nós, através de nossas memórias. Os fatores emocionais são grandes influenciadores e influenciados por este movimento que, no dia a dia parece tão simples, mas que envolve um processo tão complexo, do qual estamos, em parte, falando agora
Por vezes, registramos um sabor pelo afeto que ele traz, seja na infância ou em outra fase e seguimos com esta informação. Em uma experiência, de outro teor afetivo, pode desencadear uma “crise” no paladar, ou seja machuca/traumatiza o “sabor” anterior do paladar e, por vezes, inconscientemente registramos (memorizamos) diferente
Os prazeres e as dores das memórias dos sabores, podemos ligá-las, de forma inconsciente, intimamente às nossas experiências afetivas (pessoas, situações) e se não as trazemos para o nosso consciente (não a percebemos), não nos desenvolvemos afetivamente ou no paladar, na vida. Ou seja, se não tentamos rever nossas experiências mais difíceis, sempre ficaremos com as mais fáceis, o que pode nos tornar pessoas mais difíceis ou com maiores dificuldade durante o caminho
Sigmund Freud, neurologista e psicanalista (pai da psicanálise) descobriu nove mecanismos (recursos) de defesa do ego, que quase todos nós usamos (psicopatas não). São eles: negação, racionalização, projeção, introjeção, sublimação, repressão, regressão, deslocamento, formação reativa
Em relação aos significados afetivos que nossos “alimentos” nos “oferecem” já quando crianças, conhecemos frases como: “o sabor da comida de vovó” ou de “mãe” e quando crescemos, por vezes resistimos (consciente ou inconscientemente) em mudar nossa opinião e escolhemos rejeita-lo. Ou ao contrário. Esse fato pode acontecer quando conhecemos culturas e universos diferentes, pessoas diferentes, famílias diferentes. Por vezes não queremos “abrir mão” do conhecido. Também o contrário é verdadeiro, aprendemos a não gostar de determinado sabor e resistimos na mudança
No campo inconsciente desse possível movimento pode desencadear um ou mais mecanismo de defesa do ego (citados acima), o que vem acompanhado de comportamentos quase sempre desagradáveis ou difíceis de administrar
No universo da adoção de crianças, esse movimento pode se dar de uma forma mais intensa ou forte, por consequência das circunstâncias que envolvem a situação emocional do adotado e da adoção, onde os sentimentos comumente são fortes, pouco ou nada administrados, duradouros, confusos, contraditórios e pouco compreendidos (perda, abandono, rejeição, amor, afetos, desestruturas físicas, emocionais e espirituais nos campos individual, familiar e social, físico e emocional (esperanças e desesperanças, entre outras).
O importante é procurarmos colocar-nos abertos ao novo. Em relação a sabores, sejam quais forem, mesmo que o novo seja o velho em situação nova, ou revalorizado, repaginado, ressignificado.
Que sejam ao menos palatáveis, mas que se não o forem, consigamos aprender conôsco e superarmos atribuindo a ele um sabor melhor ou necessário
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Dra Elaine Missiano
@draelainemissiano



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