O Cuidador do Mal de Alzheimer!
- Dra Elaine de C M Missiano - Psicóloga com
- 29 de set. de 2020
- 5 min de leitura
Neste texto intenciono falar sobre aspectos neuropsicológicos (neurológicos e emocionais), que envolvem o Mal de Alzheimer e convido você, leitor a refletir sobre eles, em especial no que tange a família e cuidadores (família, parentes, amigos, entre outros).
O Mal de Alzheimer ou Doença de Alzheimer é uma doença de ordem neurológica, embora a psiquiatria e até mesmo a geriatria cuidem um pouco dela.
Seu nome deve-se ao primeiro médico que, em 1906 estudou, descreveu e publicou este mal, Alois Alzheimer.
O sintoma inicial da Doença de Alzheimer é perda da memória recente e, em seu desenvolvimento, a perda da memória remota e de outras funções cognitivas
(orientação, atenção e linguagem).
A perda da memória recente é um sintoma facilmente confundível com falhas e lapsos de memória que todos temos, quando com cansaço mental, emocional estresse. Por isso tão comumente desvalorizados, enquanto sintoma de Mal de Alzheimer.
Com o pavor que as pessoas, no geral, sentem frente ao diagnóstico de Doença de Alzheimer, a procura pelo médico, diante dos sintomas iniciais dela, é frequente.
O pavor do paciente com suspeita de Mal de Alzheimer e seus familiares supera o pavor diante de outros possíveis diagnósticos.
Esse Mal envolve a perda crescente de consciência de si mesmo e assim, entre outras, a perda crescente da autonomia. Estar sob inteiro cuidado do outro ..... verdadeiramente apavorante!
Quanto ao acompanhante, cuidador ou familiar, também é tarefa difícil, mesmo quando realizado com amor, respeito e desejo de cuidar.
A começar pelos sentimentos de pavor, pena, compaixão, angústia, tristeza, frustração, raiva, amor, solidariedade, entre outros tantos sentimentos que são experienciados diante da situação, seu prognóstico e durante o desenvolvimento do Mal de Alzheimer.
Algumas pessoas experienciam o sentimento de abandono, pelo fato de perceberem o perder, em vida, alguém que está fisicamente perto! Pode-se observar o ente querido “ir embora”.
Assistir e participar deste processo é algo com todos os adjetivos já descritos acima, entre outros....
Os sentimentos envolvidos, desgaste ou a exaustão físico e emocional nesse cuidar precisam ser “ouvidos”. Importante não negá-los ou ignorá-los. Igualmente Importante não supervaloriza-los ou desvalorizá-los.
Desta forma, a administração melhor possível de todo o entorno, pode tornar-se instrumento benéfico para a toda a situação. Entretanto, negá-los ou rejeitá-los pode prejudicar, em muito, toda a situação. Pode influenciar muito negativamente no relacionamento com o\a paciente e adoecer quem cuida.
Alguns familiares enfrentam; outros, por seus motivos, não.
Então.., a caminhada começa com o encaminhamento do clínico, ou do psiquiatra para avaliação neuropsicológica, ou do geriatra para avaliação psiquiátrica ou neurológica e também para avaliação neuropsicológica.
Isso mesmo, avaliação neuropsicológica pode detectar seu início!!
Para algumas pessoas a progressão do Mal de Alzheimer é muito rápida e difícil de conter; já para outras, é lenta e então, possível de atuar em seu tratamento.
Até o momento, não é conhecida a cura!
Mas existem medicamento que adiam ou desaceleram sua progressão. Entre eles, exercícios físicos e exercícios mentais (falarei dele mais tarde).
Sabe-se também que o Mal de Alzheimer sempre existiu e nós o conhecíamos como “esclerose” ou “caduquice”.
Isso porque ele acomete, em grande maior parte os idosos e antigamente as pessoas morriam antes de chegar nesta faixa de idade ou logo ao chegar.
Hoje é diferente!
Estudos referem que por motivo de as pessoas viverem mais tempo, então, podemos uso
Atualmente, existem cuidadores particulares, ou estadias em asilos, ou casas de repouso, ou o idoso mora com os filhos.
O melhor ambiente para qualquer pessoa é o ambiente familiar, onde devemos nos sentir bem, a vontade, confortável física e emocionalmente, envolta nos carinhos, atenção de seus familiares..... a “nossa” casa (mesmo que não seja a nossa casa)! O paciente com diagnóstico de Mal de Alzheimer também, ou especialmente!
No entanto, é bastante comum familiares preferirem colocar esse familiar com diagnóstico de Alzheimer em asilos ou casas de repouso e, com o passar do tempo
(não tão longínguo) “esquecem” deles.
Existem também famílias que mantém seus idosos com Mal de Alzheimer em casa, abandonados em mãos de empregados ou cuidadores e pouco lhes dão atenção ..
Ficam isentos de suas culpas sociais? Será que o mesmo acontece com suas próprias culpas, também?
Essas pessoas procuram envolvimento com outras atividades, para não lembrar deles e não sentirem-se culpados. Faz de conta e pronto! Acredito!
Os sentimentos de culpa? Faz de conta que não existe...?.
Entretanto, há algum tempo e a passos pequenos e vagarosos, nossa sociedade vem mudando e essa atitude também vem mudando de objetivo, os quais convido, então, você leitor, a considerar e refletirmos juntos....
Entre eles, existem os familiares que tomam consciência seus afetos, suas condições emocionais e físicas não suficientes ou ineficientes para esta tarefa.
Então buscam por asilos com seus perfis, onde colocam seus familiares e os assistem de perto a quase todas as suas necessidades (atenção, visitas, passeios frequentes, levam ao médico, a realização de exames clínicos, providenciam tratamentos outros -fonoaudiológico, terapia ocupacional, fisioterapia, alimentação suplementar, medicamento, entre outros), mas não os mantém em suas casas, nem mudam-se para a casa deles.
Dessa forma, parece não caracterizar como abandono, mas uma assistência em acordo com possibilidades financeiras, físicas e emocionais.
Um bom ambiente doméstico, familiar é tão imprescindível para o doente e o cuidador quanto medicamentos!
Nem por isso estão livres de seus sentimentos dolorosos, inclusive de culpas por não poder ser diferente, muitas vezes....., mas sabem (tem consciência) de se estar fazendo o melhor dentro do possível a todos.
Por vezes, alguma distância física\emocional ajuda no cuidar..., enquanto outros tem necessidade de estar com o paciente com Alzheimer o tempo todo, o que não se mostra saudável a ninguém
Ter o seu trabalho, o seu lazer, ter sua própria vida para cuidar, na medida adequada (cada um pode descobrir a sua “receita”) faz parte do arsenal terapêutico fundamental...
Há alguns anos, asilos estão mudando seu nome de asilo para “casa de repouso” e justificam esta mudança, por terem mudado seu conceito ....
seria necessário mudar de nome¿
A atitude, não seria o suficiente¿
De qualquer forma, a sociedade está mudando
Asilo, Casa de Repouso, Residência, todos estamos mudando nossos valores, forma de pensar e se comportar e, tomara, para melhor! Por vezes, mais cientes de nossas necessidades e limites
O que interessa que é que nós possamos não abandonar nossos familiares, independente de diagnóstico! Nem a nós mesmos!
Mas possamos nos assistir e assistí-los! Dentro do limite do saudável e do necessário a todos....
Quem faz o nosso tempo somos nós!
Tudo e qualquer coisa nessa vida, dá trabalho!!
Nós nos damos trabalho, se não deixamos a vida nos levar, simplesmente!
Desta forma, fica o convite a reflexão sobre outras formas de lidar com esta situação tão difícil, cuidador do diagnóstico Mal de Alzheimer, nossos sentimentos em relação a nós, ao nosso familiar e a este cuidar.
Quem cuida precisa de tanto ou mais cuidados!
Quanto ao exercício mental preventivo ao Mal de Alzheimer ou coadjuvante ao tratamento, observa-se muito sucesso com o uso de atividades como palavras-cruzadas, aula de dança, em especial dança de salão, ouvir a “5ª sinfonia”-Beethoven, fazer coisas diferentes ou de formas diferentes, ler assuntos diferentes e desafiadores quanto ao entendimento e compreensão do assunto, entre outras.
Costumo usar e indicar a todos um texto da nossa escritora Clarice Lispector, “Mude”, com sucesso!
Obrigada Clarice Lispector!
Filmes Sugeridos:
“Simplesmente Alice”
“Longe Dela”
“Meu pai, um estranho”
Texto sugerido:
“Mude”- Clarisse Lispector
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