A Arte Dança de Salão como Instrumento de Transformação Emocional e Neurológica (Neuropsicológica) e
- Dra Elaine de C M Missiano - Psicóloga com
- 7 de jul. de 2020
- 5 min de leitura
A arte em suas formas mais diversas são reveladoras da vida da alma humana.
A criatividade e a sensibilidade são alguns de seus ingredientes primordiais. Desde o cozinhar até tocar um instrumento, pintar, cantar, dançar, interpretar entre tantas outras.
Hoje te convido, leitor, a refletir sobre os possíveis e "incuráveis" benefícios que a arte de dançar ou a dança de salão pode propiciar....
A dança de salão tem origem na corte do rei Luís XIV (França !638-1715). Acredita-
-se que, para dançarem, os pares se abraçassem lateralmente, pelo fato de que, na época, os soldados carregavam a espada no lado esquerdo (Imagens de "Il Ballarino", de Fabrizio Caroso).
A dança de salão, refere-se a diversos tipos de danças em casal, que são executadas em salões com práticas técnicas e artísticas. Ela foi levada pelos colonizadores europeus para as diversas regiões das Américas, onde deu origem a muitas variedades, quando se mesclava às formas populares locais (tango, na Argentina; maxixe (samba de gafieira) no Brasil; a habanera (originou ritmos cubanos, como a salsa, o bolero, a rumba, entre outros), em Cuba.
Nos Estados Unidos, o swing surgiu de grupos negros dançando ao som de jazz no início dos anos 1920. Uma das primeiras danças de salão estadunidenses criadas foi o charleston.
A dança de salão chegou no Brasil no século XIX e atualmente os gêneros mais praticados nos bailes e nas escolas especializadas, são: forró, forró universitário, samba de gafieira, zouk, soltinho, zumba, salsa, merengue, bolero, foxtrote, bachata, tango, kizomba e encontramos diversas variações destes gêneros.
A dança de salão é considerada, até então, como uma forma de entretenimento e
integração social.
Atualmente, a dança de salão também é identificada por seus amantes, como uma forma muito prazerosa, de atividade física realizada, até o momento em academias ou de administrar ou sair do stress, seja físico, mental ou emocional.
Por solicitar atenção, atenção concentrada, memória, movimentos corporais, coordenação motora (fina e grossa), equilíbrio corporal, controle da respiração entre outros tantos, tem sido indicada como forma principal ou coadjuvante de tratamentos para situações e conflitos emocionais, circunstanciais e/ou crônicas (autoestima baixa, tristeza, alegrias, luto, depressão, ansiedade, administração do estresse -físico e emocional-entre outras), situações neurológicas/neuropsicológicas (déficit de atenção, hiperatividade, dificuldades rítmicas, falta e/ou dificuldade coordenação motora, coordenação percepto-espacial-motora, sequelas de AVC, Mal de Alzheimer), entre outras taaanntas!
No campo da fisioterapia, a dança de salão também parece atuar no tratamento principal ou coadjuvante, em muitos quadros ortopédicos ou neurológicos.
As danças de salão podem ser caracterizadas de várias formas. Algumas são dançadas predominantemente no mesmo lugar do salão (como o Forró de salão) enquanto outras são dançadas com deslocamento pelo salão, no caso do Samba, Bolero, Foxtrote, Tango, entre outros.
No início da história da dança, estabeleceu-se, por uma questão cultural que, tradicionalmente, o cavalheiro se aproxima da dama escolhida e pede-lhe a contra-dança. A dama, por sua vez, inserida neste contexto histórico, deve aceitá-lo. Caso contrário não poderá continuar no baile, com o objetivo de dançar. Na época, a recusa da dama a um cavalheiro e aceite do próximo, origina brigas entre os cavalheiros preteridos. Proponho conversar sobre motivos psicossociais desta situação abaixo.
Desta forma, diante do provável aceite da dama o cavalheiro a conduz até o meio do salão de dança, abraça-a com seu braço direito pela cintura e a dama retorna o abraço apoiando sua mão esquerda em seu ombro direito e, então, o cavalheiro inicia a condução, com ou sem deslocamento.
O deslocamento pelo salão é chamado de ronda e ocorre circulando o salão no sentido anti-horário.
A dança de salão acontece quando no abraço do casal acontece uma conexão, onde o cavalheiro conduz a dama pelo braço ou pelo tronco (depende do rítmo), estimulando a dama, a fazer o movimento escolhido por ele, uma vez que ela, a dama, não tem conhecimento prévio específico dos passos que serão sugeridos pelo cavalheiro. Neste momento a dama deve sentir o estímulo e deixar-se ser conduzida pelo cavalheiro.
Também é colocado que, quando um cavalheiro sabe conduzir a dama, a dança acontece mesmo que a dama desconheça o dançar.
Um olhar psicológico da história da dança, mostra uma dinâmica desenvolvida em valores considerados machistas, onde o cavalheiro não "deve" ouvir o "não" diante do convite para a contradança e ser preterido diante de outro cavalheiro, o que traria a consequência de brigas físicas entre os cavalheiros, denota em nome do sentimento de orgulho e prepotência do cavalheiro. À dama, neste caso, cabe a submissão ao cavalheiro, na dança de salão, o que não lhe dá o direito de escolher com quem quer ou não dançar.
Ainda nesta dinâmica história, observa-se que o cavalheiro tem o poder de escolher o que quer na dança de salão, mesmo que não domine e passar para a dama, através da conexão corporal, mesmo que esta não aconteça efetivamente, e a dama, recebê-la, através desta mesma conexão e obedecer.
O cavalheiro é quem escolhe quantas músicas quer dançar com a dama escolhida.
Com o passar do tempo e a evolução dos aspectos emocionais e sociais, essa dinâmica também tem sua alteração. O cavalheiro ainda escolhe a dama com quem quer dançar, mas a dama também pode escolher; a dama pode recusar o convite a contradança e, em outro momento, no mesmo baile, dançar com outro, sem o risco de brigas físicas entre os cavalheiros no salão. Outros aspectos também vem mudando devagar, como a sugestão que cavalheiros e damas não recusem um ao outro, no convite a contradança; durante a dança, os passos podem ser sugeridos pela dama, ou até mesmo combinados durante a dança, de forma verbal e então, diante do acordo comum, o cavalheiro, a conduzirá ao prévio ou recém combinado. Para o mesmo par continuar dançando, pode ser sugerido pelo cavalheiro e pela dama. A condução ainda é do cavalheiro e à dama deixar-se ser conduzida, o que também pode vir a ser mudado, quem sabe, com a continuação das mudanças emocionais e sociais.
Esse movimento psicológico e social que acontece na dança de salão, ao longo do tempo exige a flexibilidade de valores de ambas as partes, cavalheiro e dama. Exigência essa refletida na dança e vice-versa, mesmo de forma inconsciente.
Essa alteração sociopsicológica convida ao cavalheiro a dispensar a responsabilidade, muitas vezes árdua de ter sempre que saber o que quer e saber conduzir, mesmo que não saiba, não agrade e não sinta prazer com a dança. Com isso ele abre mão de seu poder e divide com a dama a responsabilidade leve pelo direito ao divertimento,
prazer do dançar, que pode levar o par a uma qualidade no resultado da dança. Quanto a dama, essas mesmas mudanças oferecem a possibilidade de não sentir-se obrigada a obedecer, mas estimulada a seguir os passos sugeridos pelo cavalheiro, dividindo com ele as mesmas responsabilidades e direitos. Assemelha-se, tantas vezes a relacionamentos outros, em pares, como namoros, conjugais, entre outros.
Observa-se, nas danças em geral, e, no caso, na dança de salão, que pessoas com maior tendência a autoconfiança, autoestima, capacidade de flexibilidade mental, mudança de foco, pensamento e emocional mostram maior facilidade em aprender a dançar. Também é possível observar a aquisição destas mudanças, via dança de salão!!
Seu efeito psicológico, neurológico, social, cultural é notável na vida de quem a tem como hábito!
Bom Divertimento!
Boa dança de salão
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