Série: “After Life - Voces vão ter que me engolir”- Uma Visão Psicológica de Uma Forma de Lidar com
- Dra Elaine de C M Missiano - Psicóloga com
- 22 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
A série After Life, me parece falar de uma forma simples e leve sobre a dor, tantas vezes, implacável do luto e como nós podemos lidar de formas diferentes com eles.
Essa diferença parece estar relacionada com a inteligência, a sensibilidade, a disponibilidade interna, a vontade de “ver a luz no fim do túnel”....... Também muitas vezes apoiada na religião, Fé e crenças....
A série After Life mostra elementos muito interessantes e vou me ater a dois dos personagens.
Um deles, um homem, jornalista, funcionário de um jornal, do qual seu cunhado é o dono. Recém-viúvo de um casamento de 25 anos, sua perda, por motivo de um câncer; o outro personagem, seu cunhado, também jornalista, dono do jornal em que trabalham, casado e pai de um menino de aproximadamente 5 anos.
Alguns aspectos do perfil psicológico do viúvo indicam um homem com inteligência e sensibilidade aguçadas, capacidade para amar e ser amado profundamente, bem-humorado, generoso, altruísta, egoísta, entre outros aspectos.
Entretanto, parece não ter aprendido a respeito de suas emoções e sentimentos e lida com revolta com sua perda e utiliza os aspectos psicológicos citados acima, a serviço de sua revolta contra Deus, contra o mundo e contra sí mesmo. Evidente, esse jeito o protege da loucura.
Todos a seu redor, conhecedores de seu momento tão especial e de tamanho e insuportável sofrimento, lidam com ele utilizando-se de paciência e compaixão.
Paciência não como ensinadas e aprendidas nas igrejas (passividade e concordância, tolerância absolutas), mas ajudando a suportar, também “puxando as orelhas”, quando necessário ou importante.
O viúvo dá algumas dicas preciosas de sua inteligência e pedido de ajuda. Uma delas é atribuída a sua cadela, que como comum aos cães, sua amizade incondicional a faz se aproximar do viúvo, sempre que o este está em risco de morte; outra delas é quando refere ao seu cunhado, em uma das cenas, que ele, cunhado, não o mandaria embora, não colocaria limites para ele e nem para ninguém, por fazer parte de sua personalidade; outra dica, quando pede a um usuário de cocaína, que compartilhe com ele; outra ainda os frutos da amizade que faz com uma senhora, ao visitar sua esposa em um cemitério. A senhora visita seu marido, depois de um casamento de muitos anos.
Ele, o viúvo, então é amparado em sua imensa e insuportável dor por pessoas do seu trabalho e de sua antiga e atual rotina.
Também recebe mensagens, em forma de filmes gravados para ele, em segredo, por sua esposa, enquanto em tratamento. Ela mostra conhece-lo profundamente e lhe dá dicas de como superar a sua imensa e profunda tristeza, provinda de seu luto.
Percebo minha dificuldade em trazer uma visão psicológica, de um aspecto de uma série tão simples e tão profunda ao mesmo tempo.... tão rica emocionalmente, como essa.
É sabido que coloca-se o processo do luto, em algumas fases. Elas não são lineares e podem ser cíclicas. Entretanto, podemos e devemos pedir ajuda e esta ajuda deve começar por nós. É importante “pegar na mão” de quem nos oferece ela, porém, imprescindível procurar dentro de nós, pelo menos o mínimo de nossas forças e de nosso discernimento para discriminar a “mão” que pode nos afundar mais e aquela que pode nos ajudar....
A revolta do viúvo, somada a sua inteligência aguçada dá o tom da riqueza do seu prognóstico possível.
Por fim, o viúvo terminando sua travessia no túnel do luto, começa a reencontrar a vida...
Uma série indicada a quem passa pelo processo do luto ou conhece e quer ajudar alguém nessa situação...
Voce, leitor, pode estar me perguntando: Então quem se conhece, conhece seus sentimentos não sente a dor do luto, da perda? Com segurança te respondo: Sente e muuuuuito, também e pode encontrar, no meio a taaannnnta dor, formas de não sucumbir eternamente, encontra a possibilidade de não morrer antes da morte chegar.....
O luto se dá em um processo, que precisa ser respeitado, inclusive por quem encontra-se de luto; entretanto, ele tem o tempo dele. Não devemos adiá-lo ou alonga-lo e sim aprender sobre nós e a vida
É isso que, mesmo inconscientemente, o viúvo faz a toooddo o tempo. O viúvo, dono dos aspectos psicológicos observados nessa série, ao procurar uma forma de dar fim a sua vida, vai reencontrando-a!
Leitura:
“Perdas Necessárias”- Judith Viorst
“Ganhos e Perdas”- Lya Luft
“Sobre a Morte e o Morrer”- Elisabeth Kubler-Ross
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