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Sobre Fanatismos ...

Muitas vezes me perguntam sobre o que é fanatismo e referem-se a não conseguir conversar com as pessoas fanáticas. NÃO há possibilidade de diálogo ou troca. A maioria das pessoas que me pergunta sobre fanatismo me oferecem referenciais de posturas de irredutibilidade, inflexibilidade e até teimosia e os temas mais frequentes para esta posição fechada estão associados a times esportivos, moda, crenças morais, éticas, religiosas, filosóficas, políticas, e até vícios, incluindo os alimentares.

Muito bem, vamos tentar falar um pouco sobre tudo isso .....

De fato, o fanatismo, seja ele qual for, pode ter motivo neurofisiológico, psicológico ou os dois......

No nosso cérebro existem algumas partes que cuidam disso, entre elas, o sistema do cíngulo, que tem entre tantas funções saudáveis, a habilidade de mudar o foco de atenção; idéia para outra; flexibilidade cognitiva; adaptabilidade;

capacidade de ver opções; capacidade de cooperar.

Quando este sistema apresenta alguma dificuldade, em geral, acelera, acontece o contrário de suas funções saudáveis, ou seja, emperramos em uma só idéia e a transformamos em convicção. Aí de quem disser o contrário de nós.....!

Nietzsche dizia que "as convicções são piores inimigas da verdade do que as mentiras”, porque quem mente sabe que está mentindo, mas quem está convicto não se dá conta do seu engano. “O convicto sempre pensa que sua bobeira é sabedoria“

Convicções recusam reavaliações!

É claro que isso também pode acontecer por fatores psicológicos/emocionais, como quando não queremos "perder" nossa razão ....... e, permitir que o outro a tenha! Neste caso, podemos chamar de teimosia ou até orgulho ferido e o que está em jogo, geralmente é o "ter razão" e eu costumo falar que não perdemos o que não temos!

Não temos a razão - estamos "certos" (com a razão), em algumas vezes e não em outras vezes. Enfim, a "razão" não é propriedade de ninguém!

E a verdade?! Ela nem sempre está em um lugar apenas ........

Bem diferente e, por vezes difícil, quando acreditamos em uma "verdade" durante tempo suficiente, que venha a nos causar algum possível dano ou prejuízo, seja emocional, moral, físico, entre outros.

Nesse caso, há fatores como carência afetiva, auto-estima baixa e necessidade de acreditar em algo (seja o que for este algo) ...

Nessas situações encontramos outros sentimentos, como culpa por ter acreditado seja no que for; decepção consigo e com o outro; sensação de tempo perdido, sensação de falta de inteligência, entre outros.

Aquí é bom lembrar que, antes tarde do que nunca e que, quando descobrimos a verdade, ela está conôsco e, se necessário, podemos procurar ajuda, desde um amigo até um profissional.

Entre os sinais e sintomas que nos dizem que estamos ficando fanáticos, encontramos:

convicções que recusam o teste da realidade; imposição a todos de uma “verdade” única extraída de crença absoluta (uniformização da linguagem), através de aparência física, rituais e slogans. expressões de caráter estereotipado e resposta que engatilhada, "na ponta da língua", pronta para qualquer emergência para que não pensemos, marcando a alienação do saber, O discurso deve falar sozinho,

Estar fanático implica em obediência cega, incondicional a algo ou alguém que dita "leis", sempre de caráter subliminar (entra diretamente no inconsciente - "lavagem cerebral"), característica tirânica, narcisista e excludente.

Essa forma de ditadura subliminar entra lentamente através do inconsciente, fazendo-nos pensar que nós é que estamos pensando, mas já não é mais.....,

Esse mecanismo ditador tem o objetivo de negar outros modos de crer e pensar. Quer controlar, manipular os nossos pensamentos e as nossas vidas.

Passamos a colocar uma causa suprema (justa ou delirante) acima de nossa vida e dos outros. Nos isolamos da convivência familiar e social. Adotamos um modo de vida só nosso (modo de vestir, cortar o cabelo, jeito de falar, entre outros). Punimos, censuramos e julgamos negativamente os que pensam ou se recusam a seguir as regras impostas.

Os membros desses grupos são persuadidos a "matarem" os vestígios simbólicos da vida anterior para fazer renascer a vida em outra base moral e de fé. Partimos para uma vida idealizada ..... "matamos" o nosso passado???

Nesse momento, já somos fanático. Já perdemos o bom-senso na lógica da comunicação e nas ações do cotidiano. O discurso passa a ser repetitivo e incabível à vida comum.

Perde-se, então, o real sentido de respeito para com o diferente, em nome de uma causa supostamente superior ou transcendente, pois a superioridade ou a transcendência não só aceitam, como aprendem com o diferente.

O psicólogo francês, J-M. Abgrael, resume o método de doutrinação fanática desses grupos em 3 etapas: 1) sedução das pessoas para a “causa”; 2) destruição da antiga personalidade e 3) construção de uma "nova" personalidade “renascida” ou “renovada”, de acordo com as novas regras. e se "inicia" a adoção de novos hábitos, "novas famílias" e até, muitas vezes, um novo nome.

Sentir-se "incondicionalmente" aceito e incluso num grupo é como estar apaixonado; surge uma sensação maravilhosa, tudo passa a fazer sentido na vida, a pessoa se sente acolhida e imensamente alegre.

O indivíduo, nessa situação, passa a acreditar ver-se de modo especial, diferente dos demais para realizar a missão "elevada"; se vê inundado por um sentimento grandioso que Freud chama de “sentimento oceânico”.

Quando estamos carentes de afeto e atenção, desesperados, desgarrados ou sentindo-nos rejeitados por um grupo social, sem uma forte identidade psicossocial, quando a vida parece perder o sentido, ao sermos acolhidos por um grupo é reconfortante! É convincente!

Em um grupo de fanáticos, recebemos mensagens confortadoras e animadoras, do tipo, que nos fazem sentir que somos "amados": “nós amamos você”, “Deus te ama”, “você é muito importante para nós". Isso inclui grupos de vândalos e outros

Nesse caso o sentimento de ser amado, em qualquer grupo, em especial em situações em que estamos carentes e com a nossa auto-estima em baixo, nos sentimos entusiasmados, apaixonados mais do de qualquer coisa. Não queremos pensar!! E......Se não podemos pensar em outras possibilidades de realidades, podemos estar fanáticos .........

Quando fanáticos, consideramos o amor através do estímulo que recebemos. Confundimos estímulo escuso com aceitação......! Ao nos entregarmos ao outro sem critérios claros, definidos e reavaliados de tempos em tempos, ficamos sem alma ..... entregamos nossa alma ao outro.....

É fundamental para a nossa vida sentirmos que somos amados; igualmente fundamental amarmos e ainda fundamental, identificarmos como e quanto nos custa esse "amor".

É fundamental reavaliarmos, de tempos em tempos os valores antigos, sob prismas novos; é fundamental avaliarmos os valores novos, também sob prismas novos..... Afinal, como diz Raul Seixas, somos "Metamorfoses Ambulantes";

Espero ter contribuído e continuo a disposição ....

Sugestão de filme: "Advogado do Diabo"

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