O Autoconhecimento e o Taro
- Texto: Maria Isabel marcondes
- 31 de jan. de 2017
- 4 min de leitura

As leituras de tarô difundiram-se muito nos últimos anos, principalmente a partir da metade do século XX até os dias atuais. As pessoas procuram um tarólogo pelos mais diversos motivos: para ajudar a resolver um conflito nos quais se acham envolvidas, para ajudar a tomar algumas decisões ou ainda simplesmente para saberem o que o futuro lhes aguarda. Estes tipos de leituras são consideradas consultas divinatórias ou de adivinhação. Mas, afinal, o tarô teria apenas a finalidade de acalmar nossa ansiedade em relação ao incerto naquilo que não está no nosso alcance vislumbrar? Esta utilidade do tarô como meio de “ler a sorte”, deve-se provavelmente aos ciganos, que em suas viagens pela Europa utilizavam-no para fins adivinhatórios.
A origem das cartas do tarô reveste-se de histórias e mistérios. Conta-se que sua origem teria sido no século XV, quando um artista italiano, Bonifácio Bembo, pintou um conjunto de cartas do jogo Tarocchi ( ou Tarot, na França), considerado jogo de salão e também um meio de predizer a sorte. No século XVIII o ocultista Frances Gebelin disse que o taro seria originário do Egito. E no século XIX, Eliphas Levi, relacionou as cartas com a Cabala. A verdade é que embora sua origem seja nebulosa, as cartas de tarô ainda provocam no mínimo curiosidade, talvez pelo fato de que suas cartas sejam repletas de imagens e figuras que excitam a imaginação. Figuras aladas, animais e pessoas com vestimentas de aparência medievais, estranhas a nossa época, povoam as cartas. Dada sua grande divulgação e facilidade em encontrá-las, pode-se supor que a amplitude de seu uso vá além das leituras divinatórias, incluindo nestas outras formas um meio de se adquirir autoconhecimento ou conhecimento a cerca das várias fases da vida do homem.
O assim chamado jogo de tarô, compõe-se num conjunto 78 cartas que são divididas em Arcanos Maiores (22 cartas) e os Arcanos Menores (56 cartas), que por sua vez, estão dispostos em quatro naipes ou grupos: paus, copas, espadas e moedas (ouro). Cada naipe dos Arcanos Menores compõe-se de uma seqüência de cartas numeradas de um a dez, As e quatro figuras humanas: Pajem. Cavaleiro, Rainha e Rei.
Segundo Rachel Pollack (1991), em seu livro Setenta e oito graus de sabedoria: um livro de tarô, as vinte e duas cartas que correspondem aos Arcanos Maiores podem ser agrupadas em três áreas de atuação, sendo o primeiro grupo relativo à consciência ou preocupações externas da vida, o segundo pela busca interior para descobrir quem somos realmente e o terceiro como desenvolvimento de uma consciência espiritual. A primeira linha de sete cartas estaria concentrada em assuntos como amor, relações sociais, educação, que são as primeiras preocupações das pessoas. Algumas pessoas não passariam deste nível de consciência, que corresponde às cartas do Mago, A Sacerdotisa, A Imperatriz, O Imperador, O Hierofante ou Papa, Os Namorados (ou Amantes) e O Carro. A seguir, para o desenvolvimento de uma consciência mais profunda de si mesmo, teríamos para a segunda linha de cartas que correspondem A Força, O Eremita, A Roda da Fortuna, A Justiça, O Dependurado (ou Enforcado), A Morte e A Temperança. A terceira linha de carta corresponde ao desenvolvimento das pessoas que procuram algo maior em sua vida ou uma união entre seus objetivos materiais e a espiritualidade. As cartas que representam este estágio da vida são: o Diabo, a Torre, a Estrela, a Lua, O Sol, O Julgamento, O Mundo. Esta seqüência de cartas segue a numeração de um a vinte e um, sendo que uma única carta, O Louco, de número zero, que pode ser encaixada em qualquer lugar destas três seqüências. A carta do Louco corresponde ao inesperado, ao imponderável que a qualquer momento pode irromper na vida, trazendo o desconhecido, o medo, a insegurança, mas também, a aventura, o desprendimento, os novos caminhos, dependendo do modo com que ela é percebida ou interpretada pela pessoa que faz a leitura. Indica ainda o recomeço, pois a partir do zero tudo poderia começar novamente. O Louco nos convida a penetrar numa paisagem estranha, a fazer uma viagem pelo mundo arquetípico das cartas do tarô, desconhecido ou pouco percebido por nós no dia a dia. O Louco assemelha-se ao bobo da corte, a quem é permitido dizer aquilo que as pessoas não querem que seja dito sem, no entanto, ser punido por isso. Desta forma teríamos, nesta seqüência das vinte e duas cartas, um retrato das fases da vida, com seus obstáculos, dificuldades, decepções, mas também com as alegrias e surpresas que todo ser humano passa ou poderia passar durante o curso de sua existência.
Assim como O Louco aponta para certos símbolos, cada carta dos Arcanos Maiores apresenta um simbolismo próprio e corresponde a uma determinada qualidade ou característica da personalidade e comportamento humano. As cartas ainda refletem as virtudes, obsessões e tendências da alma. A disposição das cartas também será motivo de interpretação, dependendo do lugar que ela irá ocupar durante a leitura.
As cartas são decoradas com figuras que trazem à tona imagens arcaicas, em que através da imaginação um mundo de representações toma forma, constituindo assim uma linguagem ou comunicação daquilo que não está ao alcance da consciência. Este diálogo com as cartas seria uma das formas de acessar o inconsciente, semelhante ao trabalho feito com as imagens oníricas, durante a análise de sonhos num processo terapêutico. Uma pessoa que tenha função intuitiva desenvolvida ou facilidade na interpretação de símbolos teria mais facilidade numa leitura de tarô, visto que as cartas não são instrumentos para uso do raciocínio lógico, mas são do domínio da linguagem simbólica ou metafórica.
Muito mais do que uma simples diversão, ou uma tentativa de adivinhar o futuro, temos nas mãos um instrumento que pode ajudar na avaliação e condução da própria vida, quando é usado para acessar este lado oculto da totalidade da alma humana. O inconsciente, embora presente na psique humana e comandante de tantas ações é um lugar obscuro que parece inacessível, mas que se torna fonte de criatividade para as questões que se apresentam diariamente, quando se pode acessá-lo. Tal qual nos sonhos, as cartas de tarô quando são colocadas em determinada seqüência e tendo suas figuras e imagens interpretadas simbolicamente, poderão ser usadas com a finalidade de auxiliar no autoconhecimento.
Escrito por:
Maria Isabel Marcondes
CRP 75 472-6
Psicóloga de orientação junguiana
Email: bel_marcondes@yahoo.com.br
Dra Elaine de Cássia Moraes Missiano
Psicóloga com Especialização em
Neuropsicologia, HC/SP
Comments