O Cuidador de Idoso
- Elaine Missiano
- 14 de jan. de 2017
- 3 min de leitura
Quem é cuidador?
O cuidador, por definição, é aquele que cuida, de algo ou de alguém.
Cuidar nem sempre é algo fácil ou prazeroso de se fazer, entretanto, como tudo, é importante gostar e/ou aprender a gostar daquilo que se faz.
O cuidador, profissão nova, que a sociedade cria e está regulamentando, confunde-se com a profissão de empregada doméstica ou babá ou até “dama de companhia”.
Especificamente, o cuidador cuida, no sentido mais amplo da palavra. Cuida de quem precisa dele ou o quer: o idoso ou terceira idade, alguém com limitações significativas, ou ainda, alguém que deseje ou precise de companhia, apenas.
O cuidador pode estar por perto durante a noite, durante o dia, ou em ambos. Desde o apoio ou mesmo ajuda física para as atividades físicas do dia-a-dia (banho, refeições), até o chá da noite e também, quando hora de dormir, lembrar e/ou dar a medicação.
Cuidar. Realmente cuidar. Situação peculiar e crescente. A nossa sociedade começa a se acostumar com ela.
Existe, entretanto, muitas vezes, a dificuldade em aceitar ser cuidado, em especial, em níveis tão profundos e íntimos como esse e, por alguém, em geral, estranho.
Uma relação que parece e, tantas vezes é, de forma inesperada e estranha, ter que começar do meio e não do início..... começa com a intimidade física, sem existir ainda, a intimidade para tanto.
Muito diferente de tudo o que se conheceu até hoje! Quase como se fosse uma relação de pais e filhos...., mas não é.....! Não é com o filho ou com a filha, ou com qualquer familiar mais próximo, o que também costuma não ser fácil, pois nem sempre tem-se intimidade física ou emocional, ou ainda afetiva, afinidade necessária com estes familiares! É com um(a) estranho(a)! Situação diferente e delicada!!
Relação tão diferente e delicada como essa, começa, via de regra, já com intimidade?!!?.
Nesse tipo de relacionamento, a confiança, em especial da pessoa a ser cuidada, é algo a ser conquistada, com o tempo (e precisa ser rápido!). E parece ainda pior, quando há real necessidade desse cuidado.
Uma espécie de babá .... talvez ..... Muitas vezes a babá complementa ou até substitui os cuidados maternos; já o (a) cuidador(a) , muitas vezes complementa ou substitui cuidados familiares.
Nessa relação com o cuidador, deixar-se ser cuidado, diferente da relação da criança com a babá, significa aceitar ajuda, aceitar limites, tantas vezes progressivos e renunciar a individualidade, a privacidade, ao fazer sozinho, o que até então, era de forma diferente. Até então não tinha-se necessidade deste grau de ajuda.
Dessa forma, muito comum, nesta relação, a presença, inicial ou permanente do sentimento de impotência, ou de incapacidade, por parte da pessoa que está sendo cuidada.
Quanto ao(a) cuidador(a) adequado(a), em geral parece precisar ter o instinto paternal, maternal e, ou melhor, fraternal. O cuidador precisa ter a sensibilidade para perceber qual a melhor distância física e emocional que deve ser mantida, nas mais diferentes situações diárias. Precisa aprender quando aceitar limites e quando exigir a capacidade; aprender a distinguir birras, quando aceitá-las e quando não.
Uma vez que, muito comum, o(a) cuidador(a) também é inserido, repentinamente na intimidade de uma família constituída e estruturada em seus valores mais arraigados. Quando não, a família também encontra-se em mudanças repentinas, intensas em suas rotinas e com enormes dificuldades de aceitação delas. Por vezes, o(a) cuidador(a) é também o mediador disso tudo!
Difícil, novo, desconhecido... Não se trata apenas de conhecer o dia-a-dia de uma família, como no caso da empregada doméstica, mas conhecer e adaptar seu trabalho a mudanças intensas e por vezes, surpreendentes, na vida de outra pessoa.
O respeito, a honestidade e a dedicação são ingredientes imprescindíveis nesta relação de início já tão íntimo, no qual a confiança e o afeto são conquistados com o tempo .........
Dedico este texto, com o meu agradecimento de filha e sobrinha, as cuidadoras, com quem eu pude aprender realmente sobre o que é o(a) cuidador(a), Márcia, Nilza e Dilza, tão dedicadas e carinhosas com meus tios, Francisca (in memorian), Izaura (in memorian) e Domingos (in memorian).
Em momentos fáceis e difíceis, desde o início de suas necessidades até seus desenlaces, ajudaram aos irmãos dos meus tios e responsáveis, Roque e Vicente, de presenças e atenção constantes e incansáveis, em todas as situações e momentos, o meu muito obrigada.
Sugiro o filme "Parente é Serpente"
Elaine de Cássia Moraes Missiano
Psicóloga com Especialização em
Neuropsicologia, pelo HC/SP
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